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Sobrevivência

25/03/2020 - Fonte: Dinheiro Vivo
As empresas vão ter de pagar parte da fatura. Todos nós vamos pagar outra parte. O importante é que depois da tormenta o barco continue a navegar

O título desta crónica parece retirado de um filme de ação. Mas infelizmente não é esse o caso. É, sim, a palavra mais importante que o primeiro-ministro proferiu na passada quinta-feira quando se dirigiu aos portugueses ao princípio da noite.

Em primeiro lugar, estamos a falar da sobrevivência individual de cada um de nós. Mas também nos estamos a referir à sobrevivência das múltiplas formas de organização social tal como as conhecemos, designadamente as empresas.

É para estas que irei falar. Muito se tem escrito em relação ao impacto da pandemia que se vive atualmente na economia. Mas menos tem sido dito sobre o impacto na gestão empresarial. A este nível, creio que há cinco áreas críticas: pessoas, clientes, cadeias de abastecimento, organização do trabalho e sustentabilidade financeira.

Pessoas – A primeira preocupação das empresas deve ser a proteção de todos os que nelas e com elas trabalham. Como evitar a propagação do vírus dentro da empresa? O que fazer se alguém aparecer infetado? Que planos de contingência temos? Como podemos apoiar as famílias daqueles que connosco trabalham? Tudo isto são questões essenciais para as quais algumas empresas se estão a preparar melhor do que outras. Mas convém ter um plano desde já.

Clientes – Manter a relação com os clientes é outro importante desafio. Sabemos que há setores particularmente afetados, como é o caso do turismo. Dir-se-á que de momento pouco há a fazer. O repto, no entanto, é saber como manter os laços, designadamente interorganizacionais, de modo a restabelecer a ligação ao mercado quando tudo isto passar.

Cadeia de abastecimento – A globalização dos negócios originou uma enorme interdependência entre os agentes económicos dentro das cadeias de valor. O que significa que um problema de produção num único país pode causar enormes danos na criação de valor económico à escala global. Há empresas de confeção paradas, pura e simplesmente porque deixaram de ter botões. Quando este fenómeno deixa de estar confinado a uma zona geográfica e passa a ser generalizado, o problema para muitas empresas não é a ausência de clientes – é não terem matérias-primas ou componentes para poderem laborar normalmente.

Organização do trabalho – A grande resposta que a sociedade como um todo pode dar à propagação do vírus é quebrar as suas vias de disseminação. Colocar os colaboradores em teletrabalho é não só uma forma de proteção individual, mas também um contributo para o benefício coletivo que decorre do enfraquecimento da cadeia de transmissão do vírus. Só que esta deslocalização dos postos de trabalho exige formas de planeamento, organização, liderança, interação e controlo muito diferentes das tradicionais. É um desafio que, a ser vencido, criará competências extremamente valiosas para o futuro.

Sustentabilidade financeira – Por último, há que assegurar a sustentabilidade financeira das organizações. Sabemos que a União Europeia e o Governo já apresentaram vários pacotes de apoio, desde linhas de crédito até à prorrogação de prazos para cumprimento de obrigações fiscais. Mas também sabemos que só isso não chega. Mais vale ser claro: as empresas vão ter de pagar parte da fatura e os seus trabalhadores, ou seja, todos nós, vamos pagar outra parte. O importante é que depois da tormenta o barco continue a navegar e que não aconteça o mesmo que sucedeu à companhia aérea britânica Flybe que soçobrou ao primeiro embate.

Para assegurar a sobrevivência não basta lavar bem as mãos e respeitar outras regras de higiene pessoal; também não basta que os serviços de saúde respondam pronta e eficazmente; assim como não bastam os milhares de milhões de euros que vão ser despejados por cima das empresas europeias. Para além de tudo isso, é essencial quebrar a cadeia de transmissão do vírus. Este é um desígnio e, acima de tudo, uma obrigação de TODOS, estejamos a falar de pessoas, organismos públicos, empresas ou organizações do terceiro setor.





     

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